A destruição e o caminho liberal para a saída
O histórico já confirma tudo aquilo que sempre foi dito: a economia global entrou em colapso não por causa da pandemia de Covid-19, mas sim porque os governos ao redor do mundo, por meio de um espantoso e incrivelmente irresponsável uso de seus poderes coercitivos, desligaram as economias, fecharam indústrias, comércios e serviços, e quebraram as cadeias de suprimentos.
Com efeito, após quatro meses de pandemia mundial, já há evidências concretas de que o lockdown não altera o número de mortos per capita. Estatísticos não conseguem encontrar nenhuma diferença de excesso de mortalidade entre os países que se trancaram e os que não.
Já a diferença de resultados econômicos são escabrosos.
Na Suécia, país que não adotou nem confinamento e nem quarentena, a economia efetivamente cresceu no primeiro trimestre, e a uma taxa anualizada de 0,4%, sendo que as previsões medianas eram de uma contração anualizada de 2,4%. Ao que consta, foi o único país ocidental importante a conseguir esse feito.
Seus vizinhos nórdicos, que adotaram lockdown, apresentaram números econômico muito piores: a economia da Noruega se contraiu a uma taxa anualizada de 5,86% e da Dinamarca, a uma taxa anualizada de 8,13%.
Por outro lado, é fato, morreram mais pessoas na Suécia do que nos outros países nórdicos. Porém, e isso é igualmente válido, morreram menos pessoas, em termos per capita, na Suécia do que nos outros países europeus que adotaram um lockdown radical, como Bélgica, Itália, Espanha e Reino Unido. A Suécia está empatada com a também confinada França, só que a economia da França encolheu à incrível taxa anualizada de 19,57% no primeiro trimestre.
Portanto, os dados empíricos mostram que, se de um lado o lockdown não evita mortes e nem protege a população, de outro ele garante a destruição econômica do país.
No resto do mundo ocidental, bilhões de pessoas foram repentinamente forçadas a ficar em prisão domiciliar, os governos passaram a decidir o que é e o que não é essencial, e todo e qualquer ajuntamento de pessoas se tornou proibido ou passou a ser rigorosamente regulado.
E assim estamos vivenciando os catastróficos resultados. Não é uma grande depressão. É uma grande supressão. Os governos, do nada, repentinamente se prontificaram a demolir os pilares essenciais da nossa modernidade. E fizeram isso com alarmante entusiasmo.
E, agora, segundo as estatísticas, eles nem sequer podem dizer que ao menos salvaram vidas.
Pior: os próprios médicos já estão garantindo que as consequências da profunda recessão econômica sobre a saúde das pessoas serão várias vezes piores do que a própria pandemia de Covid-19. E isso sem contar a carnificina causada pelo fato de os hospitais terem suspendido tratamentos de rotina, diagnósticos de câncer e cirurgias eletivas.
O que temos de concreto é que os governos ao redor do mundo embarcaram em um grande experimento de controle social que não tinha nenhuma comprovação científica. Ninguém consegue apresentar um único estudo acadêmico, revisado por pares, multi-cêntrico, que tenha utilizado grupos de controle e que tenha feito estudos randomizados controlados (RCT) demonstrando irrefutavelmente que o lockdown é a maneira mais garantida de se combater uma epidemia.
A única coisa que foi apresentada foi um modelo matemático do Imperial College, de Londres. Só que os modelos do Imperial College possuem vinte anos de histórico pavoroso; suas previsões sempre se revelaram astronomicamente erradas, e é apavorante que eles tenham sido utilizados para nortear decisões tão importantes. A própria imprensa britânica não se cansa de ridicularizá-los.
Tudo isso, em suma, significa que os governos ao redor do mundo embarcaram em um grande experimento de controle social baseados em teorias não-comprovadas e utilizando métodos não-testados.
E, ao que tudo indica, nada de bom foi alcançado por nenhum governo em termos de mitigação da doença. Ficamos apenas com a prosperidade destruída e vidas arruinadas — mais uma maciça perda de confiança em soluções criadas pelo setor público ao redor do mundo, o que pode ser algo positivo.
Trata-se da pior política da era moderna.
A acusação bizarra
Não obstante esse festival de horrores estatais, ainda há pessoas na mídia dizendo que essa pandemia, de alguma maneira, mostra um “fracasso do liberalismo”.
É difícil encontrar uma conclusão singularmente mais bizarra do que essa.
Não foram os mercados — ou seja, a livre interação entre indivíduos, consumidores, produtores e investidores — que fracassaram, mas sim o governos. Os mercados foram extintos e proibidos de funcionar por políticos e burocratas (com pesadas multas e até penas de prisão para empreendedores que se “atrevessem” a trabalhar e produzir). Em troca, esses políticos e burocratas não apresentaram absolutamente nada de positivo. Não apresentaram solução nenhuma para nada. Apenas destruíram nossa prosperidade e nosso bem-estar.
Os mercados, ao menos aqueles que ainda puderam continuar funcionando (os rotulados como “essenciais”), continuaram nos ofertando alimentos, abrigos, remédios e cuidados médicos durante o pior do momentos. Não passamos fome e ainda tivemos amplo acesso a entretenimento doméstico graças ao mercado (empreendedores em busca de lucros). A bolsa de valores e todo o mercado financeiro continuou funcionando, fornecendo informações cruciais sobre recursos e valorações, e, acima de tudo, efetuando as transações monetárias cruciais para nossa sobrevivência.
Isso é um triunfo, e não um fracasso.
Talvez, sendo complacente, a afirmação de que o liberalismo fracassou se baseia na crença de que uma sociedade livre não sabe lidar com pandemias. Só que isso também é empiricamente falso. Com efeito, ao longo de todo o século XX, tivemos vários exemplos de doenças que foram manuseadas muito bem em um contexto de liberdade. Profissionais da medicina trabalharam e deram abrigo aos vulneráveis ao mesmo tempo em que mitigaram as doenças por meio de métodos científicos. O estado ficou completamente de fora na pandemia de pólio, de 1949-52. Fez o mesmo na gripe de 1957-58, quando nada parou. Na gripe de 1968 (a gripe de Hong Kong), também nada parou (aliás, o festival de Woodstock ocorreu exatamente durante o fenômeno). Na SARS, nada parou. Na MERS, nada parou. Na H1N1, nada parou.
Por que decidimos tomar um caminho distinto em 2020 é um mistério. Independentemente disso, foi um enorme erro.
Quem conhece desaprova
O grande epidemiologista Donald Henderson (1928-2016) foi o responsável pela erradicação da varíola ao redor do mundo. Ele era o maior especialista vivo em pandemias. Sua visão sobre quarentenas, restrições de circulação e até mesmo de viagens, fechamentos de escolas e restrições gerais da liberdade era 100% negativa. Seu princípio era o de que nada deveria ser feito para interromper ou perturbar o funcionamento normal da sociedade. Qualquer medida que o governo tome para restringir a liberdade das pessoas via coerção corre o risco de transformar uma pandemia perfeitamente controlável em uma “catástrofe”.
São as palavras de um especialista na área, com um impecável currículo de façanhas.
E isso — catástrofe — foi exatamente o que ocorreu. O mundo pagará o preço por décadas. Nada disso é culpa do liberalismo, mas sim de tenebrosas decisões tomadas por políticos e burocratas ao redor do mundo, com a possível exceção de Coréia do Sul, Japão, Suécia e alguns outros poucos países (sendo a Nova Zelândia o único caso de governo bem-sucedido ao adotar uma rápida quarentena).
O que fazer
Não é o momento para ainda mais controles estatais. É hora de voltarmos a olhar para os fundamentos da modernidade e dos mais essenciais direitos humanos, e voltarmos a praticá-los novamente.
Em relação ao vírus, ninguém quer ficar doente. E ninguém quer adoecer os outros desnecessariamente. Se formos capazes de entender e aceitar essas duas verdades, temos a base para entendermos como uma sociedade livre pode lidar de maneira inteligente com a presença desta doença. As pessoas se adaptam e aprendem. O profissionais da área se concentram no assunto e trabalham em terapias e na descoberta da cura. O que exatamente os governos podem contribuir neste processo não está claro.
O economista F.A. Hayek passou toda a sua vida explicando e demonstrando que o conhecimento essencial necessário para fazer a sociedade funcionar e prosperar está nas mentes de cada indivíduo atuante. O governo não é, e não tem como ser, mais sábio e mais esperto que todo o conjunto de indivíduos de uma sociedade. E não há benefício algum em se ignorar essa lição.
O que é necessário hoje, mais do que nunca, é uma imediata restauração do livre comércio, da liberdade de empreendimento, da liberdade de movimento, dos direitos comerciais, e dos direitos humanos inalienáveis. É uma verdade dura para os governos admitirem não apenas que fracassaram, como também que pioraram tudo. Mas eles têm de admitir isso e simplesmente nos deixar em paz para que possamos restaurar a prosperidade e nossa saúde.
Disponível em Instituto Mises Brasil: t.ly/G4wY
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