A razão de ser de uma empresa é, e sempre será, procurar auferir o maior lucro possível. Quanto maior o lucro, maior é a predisposição dos acionistas em realizar aportes de capital quando necessário. Este é um detalhe importante, principalmente quando falamos de mercado de capitais, onde, empresas de boa performance e boas geradoras de dividendos conseguem captar recursos a um custo baixo (via aumento de capital ou com a emissão de debêntures) comparativamente aos juros pagos quando se recorre às instituições financeiras.
E para que a empresa possa maximizar seu lucro, a sua gestão é fundamental. Ter um conjunto de gestores que entendam o dia a dia da empresa e do mercado como um todo. Assim, num mercado competitivo, as decisões de seu corpo diretivo são tomadas de acordo com as necessidades pontuais para garantir uma oferta adequada frente à demanda, sem perder de vista o horizonte, estabelecendo estratégias para garantir a sustentabilidade da empresa no longo prazo.
Como é sabido, se os resultados são ruins, é por conta da má gestão, e a troca dos gestores se dará nas reuniões do conselho ou nas assembleias. Entretanto, à medida que existam interferências externas (ingerência) sob a gestão, principalmente no que diz respeito aos aspectos do cotidiano, como a precificação do produto, elas afetarão as margens, consequentemente a capacidade de gerar bons lucros. Esta atitude desestimula os acionistas, o que poderá resultar em dificuldades na obtenção de recursos para investimentos futuros.
É por estas, e muitas outras razões, que se defende a privatização das empresas controladas pelo Estado. Como vivenciamos recentemente, o governo externou a intenção de intervir nos preços dos derivados de petróleo, com a fixação dos preços em um patamar abaixo do que seria a realidade de mercado. A medida pode parecer simples, mas trás um conjunto de deformações nas relações da empresa com o mercado, pois desequilibra as relações tradicionais de oferta e demanda.
Analisando-se pelo lado da demanda, a um preço menor, o mercado terá a predisposição de demandar mais produtos e, como a empresa é monopolista no refino, terá a necessidade de ofertar cada vez mais, aumentando suas importações que, a um câmbio depreciado, torna o custo cada vez mais elevado. Não podendo repassar este custo, estreita-se a margem, comprometendo a sua lucratividade. Como já se viu no passado, isso pode levar a empresa a uma situação de forte desequilíbrio de caixa, levando-a a amargar grandes prejuízos.
Um aspecto importante a observar é que o petróleo é classificado como uma commodity, portanto, um produto supérfluo e totalmente elástico a preço altamente sensível à variação de preço. Dessa forma, do ponto de vista da comercialização, a empresa nada mais é do que uma tomadora de preço e, nessa condição, ela teria que ajustar seus custos de produção de acordo com o valor que o mercado está disposto a pagar. No caso brasileiro, este ajuste é inimaginável, pois a empresa atua como monopolista, ou seja, ela é quem define o preço.
Para a alegação de que a intervenção é importante pois os derivados de petróleo são produtos essenciais, cabe uma observação. Um produto supérfluo tem, pela sua natureza, substitutos. Assim, ele pode ser essencial no curto prazo, mas no longo prazo substitutos surgirão. Essa é a dinâmica de mercado. Vejamos, por exemplo, o que aconteceu em 1973. A primeira grande crise do petróleo se deu pela elevação súbita do preço do petróleo em mais de 400% em três semanas, e para contornar essa crise, aqui no Brasil, criou-se o programa Proálcool, solução para driblar a dependência do país à gasolina.
Aliás, esta dependência do país aos combustíveis de origem fóssil denota também uma falha dos governos em não ter desenvolvido modais alternativos para o transporte de passageiros e cargas, como vemos em outras economias, principalmente nas mais desenvolvidas. Se investimentos no transporte ferroviário, fluvial e de cabotagem de cargas tivessem sido realizados nos últimos quarenta anos, certamente a dependência ao diesel não seria tão grande, bem como a dependência das montadoras em relação ao governo.
Se em nosso país todo o setor petroleiro já estivesse privatizado, com as leis de mercado sendo praticadas em sua plenitude, os ajustes de preços se dariam de forma natural, e as soluções alternativas seriam encontradas pelo próprio mercado. Justamente para não ficar na dependência do cartel da OPEP, além da questão ambiental, é que as montadoras vêm buscando soluções alternativas para a combustão dos automóveis, cuja implementação se vislumbra para os próximos anos.
Otto Nogami – Economista, sócio da Nogami Treinamento e Consultoria, professor universitário e professor convidado da Fundação Brasil Novo.
Disponível em Fundação Brasil Novo: https://brasilnovo.org.br/artigos/1
Educação financeira só será possível com ação conjunta do mercado e do governo. Apesar de avanços, resultados não são imediatos O superendividamento é...
Saiba maisTodas as pessoas em sociedade, sem exceção, lidam com o dinheiro. Não por escolha, mas porque é preciso. No entanto, ainda assim, a educação...
Saiba maisA renda baixa do brasileiro dificulta atingir essa meta, mas a educação financeira tem um potencial transformador A independência financeira...
Saiba mais