No coração da Ásia, em um dos países mais acelerados do mundo, China, há mais de uma década participo e observo a revolução da educação neste lado do planeta.
Um ambiente altamente competitivo e extremamente estressante que leva muitos jovens até mesmo ao suicídio.
O crescimento econômico dos países chamados Tigres Asiáticos, como Singapura, Taiwan, Hong Kong e Coréia do Sul, deu início a um competitivo mercado acadêmico na formação de jovens. Equipados com as melhores ferramentas, disputam entre si para viabilizar a entrada nas melhores universidades do mundo, o que os garantirá uma posição privilegiada no exigente mercado de trabalho destes países futuramente.
Na ânsia de ver seus filhos bem posicionados trazendo a família motivo de orgulho e status, as ‘Tiger Moms‘ iniciam a educação destes já durante a gestação. Uma loucura, diria eu!
Dedicam horas de seu tempo ouvindo música clássica para que nasçam com maiores habilidades para música, ou ouvindo palestras científicas, entre outros tantos exemplos complexos de aceitar e compreender. E não para por aí. A maioria das crianças começa a ter aulas de piano, violino ou flauta a partir dos 3 anos de idade.
Lembro-me sempre do primeiro grupo de mães que conheci ao chegar em Hong Kong há mais de doze anos, no parque do condomínio onde morava.
Minha filha, na época com 4 anos, logo fez novos amigos e no final da tarde, inocentemente perguntei a que outros parques levavam as crianças para brincar uma vez que morávamos na parte mais urbana de Central, Hong Kong. Neste momento uma das mães pacientemente explica-me: “oh… elas só tem as quartas-feiras a tarde para brincar pois nos outros dias frequentam aulas de piano, balé, desenvolvimento cognitivo, lego, inglês, francês e a tradicional escrita cantonesa.”
Vendo a minha expressão de surpresa, sou então informada que o quanto antes começarem a formação acadêmica e outras habilidades, melhores chances têm de conseguirem um lugar em uma boa escola, o que as colocará em uma excelente universidade levando-as a uma carreira de sucesso e aumentando então as chances de um bom casamento.
Ainda sem palavras diante de um dos maiores choques culturais da minha vida fico sabendo que as crianças são colocadas nas filas de espera das melhores escolas já ao nascer. Demorei um tempo, mas, mais tarde acabei entendendo a piada de que “em posse de sua primeira ecografia, já se pode fazer a matrícula escolar”.
Enquanto vou conhecendo e me adaptando a esta nova cultura, sigo aproveitando um ano sabático e explorando vários lugares e aspectos da cosmopolita Hong Kong.
E eis que, um ano mais tarde, me vejo novamente trabalhando, desta vez do outro lado desta busca frenética das famílias pela excelência acadêmica, em uma das mais renomadas escolas internacionais da região, onde então passo a testemunhar as consequências desta demanda na vida dos jovens e sua saúde física e mental.
Na contínua busca de proporcionar um ambiente saudável e ferramentas que possam ajudar estes jovens a ter uma vida mais equilibrada e ainda assim atender as expectativas familiares de competição acadêmica, por um lugar ao sol, recentemente em um dos seminários que participei conheci um projeto de vida sustentável desenvolvido por Paulo Cruz Filho e Roberta Domingues da We.Flow, chamado Programa Pessoa B, que amplia a consciência das pessoas sobre o seu impacto no mundo, conectando corpo, mente e alma e levando isso para as empresas que buscam a excelência da sustentabilidade.
A pandemia certamente agravou a situação destes jovens devido ao isolamento em uma idade onde a socialização é fundamental para o desenvolvimento dos mesmos como pessoa.
Como sempre, penso que nem tudo que não podemos controlar, seja bom ou ruim, sempre podemos aprender. Acredito que o isolamento de certa forma abriu fronteiras para a comunicação entre pessoas de várias partes do mundo trazendo novas oportunidades de aprendizado e desenvolvimento e após participar do Pessoa B, em parceria com esta equipe maravilhosa, fiz uma pequena experiência com uma de minhas turmas.
Devido ao alto grau de dificuldade do currículo do IB (International Baccalaureate), escolhi a turma dos alunos no penúltimo ano do curso de DP (Diploma). Nesta turma há o maior índice de stress e depressão e que, inclusive em outras escolas de currículos locais, há um índice alto de suicídio.
Lancei-me a este novo desafio porque sou apaixonada pelo que faço e convicta de que, através da educação e formação de cidadãos globais, que trazem em seu caráter e formação compaixão e honestidade, podemos mudar o mundo.
Depois de 3 meses, com dedicação de 2 a 3 horas da semana em um processo de autoconhecimento, conseguimos com que os alunos desenvolvessem e incrementassem a habilidade de saber quem são individualmente e as consequências de seus atos e contextos.
Lembro sempre que nesta idade o comportamento se dá em grupo, vinculados às identificações que estabelecem e seus interesses pontuais e situacionais. Mas eis que, com este trabalho, estes jovens passaram a conhecer e reconhecer causas e consequências que afetavam os seus estados de ânimo e reações. Ao serem expostos a diversas ferramentas que poderiam ajudá-los a desenvolver um conhecimento maior de si mesmos e auxiliá-los a ultrapassar os obstáculos encontrados em suas vidas, percebemos uma drástica mudança de comportamento neles.
Hoje vejo jovens felizes e confiantes, que às vésperas do maior exame acadêmico de suas vidas encontram tempo para trabalhar em projetos comunitários extracurriculares. Entusiasmados com sua participação, organizam eventos de celebração do ano novo Chinês e ativamente participam e ajudam na convenção anual da MUN (Model United Nations), onde debatem, juntamente com outras escolas, problemas sociais globais e possíveis soluções para eles.
E com isto fica nítida a mudança de tendência de comportamento, antes comum, de isolamento social, ansiedade e depressão.
Em meu constante aprendizado na vida, sempre buscando ser uma versão melhor de mim mesma para contribuir para um futuro mais positivo, posso dizer que com esta experiência confirmei que todos os jovens têm um talento e são extremamente resilientes, ávidos por conhecimento e conscientes de seu poder de influenciar a mudança para um mundo melhor.
Nosso papel como educadores de uma geração altamente tecnológica é mostrar-lhes as ferramentas para que desenvolvam o auto-conhecimento e a habilidade de transformar-se e ultrapassar as barreiras encontradas, acreditando que nada é impossível e que todos os objetivos podem ser atingidos com dedicação e equilíbrio.
Cabe a nós o papel de desenvolver a educação holística, proporcionando um ambiente saudável, onde a autoconfiança permitirá com que eles mesmos façam as conexões necessárias com as experiências vividas, buscando melhores resultados e maiores progressos em sua evolução.
Gratidão por mais esta oportunidade!
Disponível em Dynamic Mindset: https://bit.ly/3Jdau9q
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