A independência financeira é o sonho da maioria das pessoas. Viver com tranquilidade, sem depender do salário, sem a pressão de dívidas para realizar metas e oferecendo segurança e qualidade de vida para a família, independentemente do cenário econômico. No entanto, para a maioria, isso ainda parece fora do alcance.
Grande parte dessa dificuldade vem das condições socioeconômicas, mas o baixo letramento financeiro também tem peso relevante. Mesmo aqueles que têm uma renda compatível com o planejamento para um futuro confortável acabam, por vezes, sem economias, presos em dívidas e sem perspectiva de conquistar a sonhada liberdade financeira.
Segundo uma pesquisa de dezembro de 2023, realizada em 135 cidades, 67% dos brasileiros não têm uma reserva de emergência. Apenas 10% dos entrevistados têm economias que cobririam os gastos de três a seis meses, enquanto somente 6% têm reservas para manter seu padrão de vida por um ano ou mais.
Esse dado é reflexo do cenário econômico desafiador: a renda média do brasileiro gira em torno de R$ 3,2 mil, de acordo com o Ipea. Com essa renda, insuficiente até mesmo para cobrir os gastos essenciais de uma família, o planejamento financeiro e a construção de reservas são extremamente difíceis, e a ausência de uma educação financeira adequada contribui para o agravamento da situação.
Embora a renda seja uma questão complexa, que envolve múltiplos fatores, planejamento financeiro deveria ser matéria obrigatória desde o ensino médio, para que os jovens desenvolvam habilidades essenciais para lidar com suas finanças e, dessa forma, ampliem suas possibilidades de construir um futuro mais próspero e seguro.
Muito se fala sobre a importância de políticas públicas de fomento à economia, transferência de renda, incentivos ao empreendedorismo, e tantas outras, e não há dúvida quanto à relevância dos programas criados com esse fim, principalmente em um país com tanta desigualdade como o nosso.
Ocorre, porém, que parte do problema poderia ser minimizado se tivéssemos políticas focadas em melhorar o letramento financeiro da população.
Apesar de termos um sistema financeiro moderno, organizado e com regulamentação extremamente evoluída, além de baixas barreiras de entrada para o investidor iniciante, a educação financeira ainda é uma lacuna estrutural.
Oferecer acesso a produtos financeiros, como fundos de investimento e ações, é importante, mas não suficiente. É preciso ir além e prover conhecimento para que as pessoas compreendam a importância de organizar suas finanças, mudar sua relação com o dinheiro e o consumo, e investir de forma consciente e planejada, mesmo começando com pouco.
Como educador financeiro, observo a transformação que a educação financeira proporciona na vida das pessoas. Compreender conceitos básicos de orçamento doméstico, investimento e controle de gastos permite que elas tomem melhores decisões e, inclusive, que definam o seu próprio conceito de sucesso, ao invés de ficar perseguindo metas irreais pautadas por vidas com oportunidades diferentes das suas.
O mais importante é compreender o que são necessidades genuinamente suas e o que é pressão social. Enquanto você tiver como prioridade viver de aparências para impressionar os outros, não vai trilhar o caminho da liberdade financeira.
Liste o que é imprescindível para viver. E aqui vale o que é imprescindível para você. Cada pessoa tem necessidades diferentes e sabe o que é importante para sua qualidade de vida, felicidade, equilíbrio e saúde mental.
Sendo assim, sejam quais forem os itens essenciais para sua vida, eles devem ser mantidos no seu orçamento e devidamente precificados. O processo de construção de riqueza não tem que ser um autoflagelo, ele tem de ser realista e inteligente.
A medida da independência financeira é quanto custa a vida que você deseja ter, portanto, autoconhecimento, bom senso e equilíbrio são a chave para um planejamento financeiro eficiente.
Quando aprendemos a ressignificar nossa relação com o dinheiro e paramos de nos pautar por um imaginário coletivo de vida que parece comercial de resort, compreendemos que o topo da curva de satisfação é a suficiência, e este é um conceito muito importante.
Ao colocar independência financeira dentro de uma perspectiva quantificável de suficiência, ela se torna tangível. Ao contrário, quando a meta é simplesmente riqueza, algo subjetivo, quanto mais avançamos no padrão de vida, novos patamares desejamos, e isso vira uma busca infinita, geralmente pautada por padrões externos a nós, o que certamente não traz liberdade emocional e nem financeira.
Eduardo Mira é investidor profissional, analista CNPI, pós graduado em pedagogia empresarial, coordenador do MBA em Planejamento Financeiro e Análise de Investimentos da Anhanguera Educacional, sócio do Clube FII e sócio fundador da holding financeira MR4 Participações.
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