Na disputa política, a linguagem é o primeiro campo de batalha. A definição dos termos utilizados no debate público limita e direciona o que pode ser pensado e expressado. Por isso, a tentativa de enquadrar a defesa da liberdade de expressão como ataques da “extrema-direita” à democracia não é coincidência: é um ato político, que visa enfraquecer todo o campo da direita.
É o que o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, está fazendo quando acusa a apuração dos Twitter Files no Brasil de ser uma “articulação global de extrema-direita”. Ao atribuir as críticas à atuação do STF e do TSE a uma conspiração liderada por extremistas, Barroso quer minar a credibilidade de todos os que ousam denunciar os abusos de poder da Corte. Não bastasse a censura direta, estamos diante da exclusão do próprio pensamento de oposição no debate público.
Jornais, colunistas, acadêmicos, políticos; todos participam desse esforço orquestrado. Toda discordância com as narrativas oficiais do governo recebe o selo de extrema-direita. O mesmo esvaziamento semântico que ocorreu com o termo “fascista”, que a esquerda repetiu em tantos contextos a ponto de fazê-lo perder significado, agora acontece com a extrema-direita. Fica a impressão de que a direita deixou de existir no país.
Na ciência política, o conceito de Janela de Overton ajuda a entender essa dinâmica. Criado pelo americano Joseph P. Overton, o termo descreve toda a gama de ideias aceitáveis ou razoáveis no discurso público em um determinado contexto. Dentro da Janela de Overton se encontram as ideias consideradas aceitáveis e sensatas. Fora dela se alojam as ideias radicais, inaceitáveis no debate público razoável, que devem ser rechaçadas e excluídas.
O que ocorre no Brasil é uma redução e deslocamento da Janela de Overton. De um lado, pautas que deveriam ser caras a qualquer defensor da democracia, como a liberdade de expressão, são empurradas para o campo do “extremismo”. Do outro, correntes radicais da extrema-esquerda são rotineiramente incluídas como razoáveis e sensatas.
Todas as diferentes versões do comunismo da extrema-esquerda, inclusive as que defendem a “ditadura do proletariado”, são normais nas universidades e defendidas abertamente por partidos políticos. Como disse o próprio presidente Lula se referindo a Flávio Dino, temos um ministro comunista na Suprema Corte. No Brasil, a extrema-esquerda goza do privilégio de existir dentro do rol de opiniões aceitáveis. Já a direita sequer tem a permissão de existir.
Como explica André Marsiglia, “Extremos são combatidos com controle e prisão, não com debate e eleição. A direita ser enxergada como um antro de radicais é conveniente para impedir que seus adeptos e candidatos sejam incluídos na política.”
A concepção moderna de liberdade de expressão é tão antiga quanto a própria democracia liberal. Ela afirma que os indivíduos têm o direito fundamental de expressar suas opiniões e ideias livremente, sem interferência ou censura governamental, reconhecendo essa liberdade como um direito humano básico, fundamental para o funcionamento saudável de uma democracia.
Certas restrições são legítimas e devem ser aplicadas, mas apenas quando estritamente necessárias, seguindo o devido processo legal, com direito ao contraditório e à publicidade das decisões. O problema no Brasil é que, além da exceção ter virado regra, garantias individuais estão sendo desrespeitadas, à revelia do que diz a lei e a própria Constituição. Apontar essas violações não é, nem deve ser, coisa de “extremistas”.
A direita precisa entrar no campo de batalha da linguagem. A janela precisa ser aberta e deslocada da esquerda para a direita. Não, não há nada extremo na defesa da liberdade de expressão. Quem tenta te convencer do contrário só está interessado no próprio projeto de poder.
Editorial: 22 de abril de 2024
Disponível em Novo.org.br: https://bit.ly/3xUOOyp
O varejo começa a preparar as vitrines e promoções pensando no Dia das Mães, que acontece dentro de um mês, em 12 de maio. Roupas, perfumes...
Saiba maisA atual onipresença do Supremo Tribunal Federal traduz nota de relevo da atual quadra histórica brasileira. Se, por um lado, o fenômeno enaltece...
Saiba maisUm protagonista assume seus erros e encara de frente a responsabilidade por aquilo que acontece em sua vida pessoal ou profissional. Comece pensando...
Saiba mais